Aqui fica uma excelente história, criada pela Helena da E.B. 1, 2 e 3 do Bom Sucesso, em resposta ao desafio de escrita criativa que lancei aos alunos dessa escola.
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Obrigada, Helena, gostei muito.
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As duas luas tocaram-se no céu. Era a hora marcada para o encontro. A anciã olhou em volta, constatando mais uma vez que a enorme clareira estava vazia.
Todos tinham sido avisados, o assunto era da maior importância... porque não aparecia ninguém?
E então eles começaram a chegar, cada um trazendo um relato diferente sobre as dificuldades e os perigos que tinha enfrentado para chegar até ali.
Uns falavam muito, outros quase nada...
Todos tinham sido avisados, o assunto era da maior importância... porque não aparecia ninguém?
E então eles começaram a chegar, cada um trazendo um relato diferente sobre as dificuldades e os perigos que tinha enfrentado para chegar até ali.
Uns falavam muito, outros quase nada...
Uns passaram por fortes inundações, outros por areias movediças e até leões ferozes. Parecia que algo muito maior que eles tentava impedir a todo o custo que aquela reunião não se consumasse.
A um canto, dois Mareli mostravam as suas feridas, fruto de um deslizamento de pedras do qual foram vítimas. Estavam cercados por uma dezena e meia de espectadores, uns surpreendidos, outros intrigados. Contaram o motivo da derrocada, entre exclamações de assombro e olhares assustados.
Já a noite ia adiantada quando chegaram os últimos convocados, uma família Zuli do norte do território. Demorou muito tempo porém, já todos se encontravam na clareira.
Anise (a anciã), no seu ar cansado dos muitos anos de vida dura e dos dias que levara sem dormir para preparar a reunião, bateu duas vezes com a bengala no chão. Com esse simples, todavia solene gesto, Anise fez com que todos se acalmassem.
Toda a gente a conhecia, uns tinham-na como mãe, outros como uma grande líder. Mesmo sendo a sua idade já avançada, ainda se podiam ver algumas madeixas roxas entre os seus longos fios brancos. Haviam rumores de que tais madeixas roxas reflectiam a muita energia da que as possuía, negando-se a abandoná-la.
Com um gesto dos braços, Anise iniciou o seu discurso.
- Caros amigos, agradeço a vossa vinda e gostaria que soubessem o quanto a vossa presença significa para mim e para todos nós. Ao estarem aqui presentes hoje, estão a contribuir para que juntos consigamos resolver todos os problemas do nosso povo e dissipar todos os dilemas causados pelas diferenças entre raças.
Como sabem, o nosso guerreiro e querido amigo Agáthon foi ontem levado por oficiais nativos Sanguis para trabalhar nas minas novas de Oníris. Pedi à sua família a amabilidade de comparecer perante nós e ajudar-nos a tomar decisões e a estipular objectivos.
A reunião de hoje tem em vista libertar todos os escravos existentes neste território, a trabalhar forçadamente naquelas minas e sem receber qualquer remuneração. Escravos que eram jovens livres, que têm direito a permanecer como tal e com famílias que todos os dias choram por eles, sem saber se alguma vez os voltarão a ver. O que proponho que façamos, meus amigos, é tomar as minas de assalto e resgatar todos os que lá estão presos. – Fez uma pausa, para estudar a reacção de todos os presentes. Anise sabia que nenhum deles estava disposto em arriscar a sua vida por um objectivo tão insignificante porém, sabiam também que aquele era apenas o princípio de algo grande.
Se tudo desse certo, às poucas centenas de pessoas de todas as raças não-nativas existentes no território sangui, aliar-se-iam os escravos das minas, que com certeza quereriam recuperar a sua liberdade e pôr fim àquele circulo de tortura.
Uma vez que todos pareciam aceitar a sua proposta, mesmo que relutantemente, Anise continuou o seu discurso.
- Sei que todos eles nos estarão muito agradecidos e terão todo o prazer em ajudar-nos na continuação da nossa luta pelo fim da descriminação imposta a nós pela raça dominante.
Quero que tenha também a noção que esta é apenas uma das muitas batalhas que teremos de travar e que cada vez será mais difícil o nosso caminho. Uma vez que estamos numa grande desvantagem numérica, poderão haver bastantes baixas e a nossa vitória em nada está assegurada, pelo que devemos compreender os motivos de quem não puder juntar-se a nós na batalha. Estão livres de partirem quando quiserem. – Tais palavras foram ditas com alguma preocupação da sua parte. Se por um lado não podia obrigar o seu povo a encarar a morte quase certa, também não podia deixar que centenas de pessoas vivessem assim toda a sua vida. Era uma decisão difícil, tomada depois de muitos dias de ponderação e Anise esperava ter tomado a melhor decisão.
Entretanto, na plateia, aproximava-se cada vez mais dela um jovem ruivi alto e de aparência bastante forte, que aparentava ter cerca de dezassete anos e portava uma espada embainhada à cintura.
O jovem não se demonstrava de modo algum intimidado por estar perante a líder da resistência contra a tirania sangui. Continuou a caminhar até se situar à frente de todos os outros presentes do grupo. Todos se calaram ao reparar no seu gesto de ousadia.
A ousadia do jovem tinha uma razão, era um dos raros fugitivos da mina e sabia mais que ninguém todos os caminhos e esconderijos que os sobreviventes daquela aventura poderiam usar.
Anise acenou ao jovem e este acercou-se dela, com um olhar orgulhoso, porém, nada modesto ou vaidoso.
- Este é o Arthur, um jovem amigo. Ele é um dos poucos corajosos que escapou vivo àquele inferno na terra, ele sabe perfeitamente os melhores esconderijos que podemos usar aquando da nossa operação. Apesar da sua tenra idade, confio plenamente das suas faculdades mentais e estou convencida de que ele guiar-vos-á tão bem como eu. – O Jovem fez uma vénia, como que a agradecer. - Amanhã, agradeço que vocês se reúnam aqui outra vez, para que ele vos dê indicações sobre o que fazer. Por hoje é tudo, podem voltar para as suas casas...
A posição das luas, já perto do solo, indicava que o dia não tardaria a nascer. Cada momento contava, agora... Não poderiam permanecer reunidos por muito mais tempo. O grupo dispersou.
De novo sozinha, a anciã reflectiu sobre o que se passara nessa noite. Todos aqueles atrasos não podiam ser coincidência. Os deuses não deveriam desejar que se tomassem medidas. Cabia-lhe a ela decidir o que fazer: respeitar a vontade deles... ou tentar, apesar de tudo.
A um canto, dois Mareli mostravam as suas feridas, fruto de um deslizamento de pedras do qual foram vítimas. Estavam cercados por uma dezena e meia de espectadores, uns surpreendidos, outros intrigados. Contaram o motivo da derrocada, entre exclamações de assombro e olhares assustados.
Já a noite ia adiantada quando chegaram os últimos convocados, uma família Zuli do norte do território. Demorou muito tempo porém, já todos se encontravam na clareira.
Anise (a anciã), no seu ar cansado dos muitos anos de vida dura e dos dias que levara sem dormir para preparar a reunião, bateu duas vezes com a bengala no chão. Com esse simples, todavia solene gesto, Anise fez com que todos se acalmassem.
Toda a gente a conhecia, uns tinham-na como mãe, outros como uma grande líder. Mesmo sendo a sua idade já avançada, ainda se podiam ver algumas madeixas roxas entre os seus longos fios brancos. Haviam rumores de que tais madeixas roxas reflectiam a muita energia da que as possuía, negando-se a abandoná-la.
Com um gesto dos braços, Anise iniciou o seu discurso.
- Caros amigos, agradeço a vossa vinda e gostaria que soubessem o quanto a vossa presença significa para mim e para todos nós. Ao estarem aqui presentes hoje, estão a contribuir para que juntos consigamos resolver todos os problemas do nosso povo e dissipar todos os dilemas causados pelas diferenças entre raças.
Como sabem, o nosso guerreiro e querido amigo Agáthon foi ontem levado por oficiais nativos Sanguis para trabalhar nas minas novas de Oníris. Pedi à sua família a amabilidade de comparecer perante nós e ajudar-nos a tomar decisões e a estipular objectivos.
A reunião de hoje tem em vista libertar todos os escravos existentes neste território, a trabalhar forçadamente naquelas minas e sem receber qualquer remuneração. Escravos que eram jovens livres, que têm direito a permanecer como tal e com famílias que todos os dias choram por eles, sem saber se alguma vez os voltarão a ver. O que proponho que façamos, meus amigos, é tomar as minas de assalto e resgatar todos os que lá estão presos. – Fez uma pausa, para estudar a reacção de todos os presentes. Anise sabia que nenhum deles estava disposto em arriscar a sua vida por um objectivo tão insignificante porém, sabiam também que aquele era apenas o princípio de algo grande.
Se tudo desse certo, às poucas centenas de pessoas de todas as raças não-nativas existentes no território sangui, aliar-se-iam os escravos das minas, que com certeza quereriam recuperar a sua liberdade e pôr fim àquele circulo de tortura.
Uma vez que todos pareciam aceitar a sua proposta, mesmo que relutantemente, Anise continuou o seu discurso.
- Sei que todos eles nos estarão muito agradecidos e terão todo o prazer em ajudar-nos na continuação da nossa luta pelo fim da descriminação imposta a nós pela raça dominante.
Quero que tenha também a noção que esta é apenas uma das muitas batalhas que teremos de travar e que cada vez será mais difícil o nosso caminho. Uma vez que estamos numa grande desvantagem numérica, poderão haver bastantes baixas e a nossa vitória em nada está assegurada, pelo que devemos compreender os motivos de quem não puder juntar-se a nós na batalha. Estão livres de partirem quando quiserem. – Tais palavras foram ditas com alguma preocupação da sua parte. Se por um lado não podia obrigar o seu povo a encarar a morte quase certa, também não podia deixar que centenas de pessoas vivessem assim toda a sua vida. Era uma decisão difícil, tomada depois de muitos dias de ponderação e Anise esperava ter tomado a melhor decisão.
Entretanto, na plateia, aproximava-se cada vez mais dela um jovem ruivi alto e de aparência bastante forte, que aparentava ter cerca de dezassete anos e portava uma espada embainhada à cintura.
O jovem não se demonstrava de modo algum intimidado por estar perante a líder da resistência contra a tirania sangui. Continuou a caminhar até se situar à frente de todos os outros presentes do grupo. Todos se calaram ao reparar no seu gesto de ousadia.
A ousadia do jovem tinha uma razão, era um dos raros fugitivos da mina e sabia mais que ninguém todos os caminhos e esconderijos que os sobreviventes daquela aventura poderiam usar.
Anise acenou ao jovem e este acercou-se dela, com um olhar orgulhoso, porém, nada modesto ou vaidoso.
- Este é o Arthur, um jovem amigo. Ele é um dos poucos corajosos que escapou vivo àquele inferno na terra, ele sabe perfeitamente os melhores esconderijos que podemos usar aquando da nossa operação. Apesar da sua tenra idade, confio plenamente das suas faculdades mentais e estou convencida de que ele guiar-vos-á tão bem como eu. – O Jovem fez uma vénia, como que a agradecer. - Amanhã, agradeço que vocês se reúnam aqui outra vez, para que ele vos dê indicações sobre o que fazer. Por hoje é tudo, podem voltar para as suas casas...
A posição das luas, já perto do solo, indicava que o dia não tardaria a nascer. Cada momento contava, agora... Não poderiam permanecer reunidos por muito mais tempo. O grupo dispersou.
De novo sozinha, a anciã reflectiu sobre o que se passara nessa noite. Todos aqueles atrasos não podiam ser coincidência. Os deuses não deveriam desejar que se tomassem medidas. Cabia-lhe a ela decidir o que fazer: respeitar a vontade deles... ou tentar, apesar de tudo.
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